Crise hídrica: entenda a diferença entre racionamento e blecaute

Crise Hídrica

Com o pior regime de chuvas em 90 anos e algumas das principais hidrelétricas do país correndo o risco de ficar vazias, o tema da crise hídrica entrou de vez para a lista de preocupações da agenda econômica e política do país. 

Uma certeza já se tem: a conta de luz deve ficar bem mais cara por conta dela, consequência das dezenas de termelétricas de emergência que estão sendo acionadas para complementar o fornecimento de energia e que, movidas a gás ou diesel, são bem mais caras do que as hidrelétricas.

Taxa da bandeira vermelha, cobrada na conta de luz, deve subir mais de 60% a partir de julho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vai aumentar os valores das bandeiras tarifárias, uma taxa extra que é acionada quando o custo da geração de energia sobe, o que está acontecendo neste ano por causa da crise nos reservatórios das hidrelétricas.

A bandeira deve vigorar pelo menos até novembro. O objetivo é cobrir o custo da geração de energia por termelétricas. Neste ano, a conta das bandeiras já está com um rombo de R$ 1,5 bilhão.

Crise Hídrica e a retomada da economia

A crise hídrica que assola o Brasil chama atenção pela gravidade — não inédita nos últimos anos — e também pela possibilidade de racionamento de energia elétrica, para afastar a possibilidade de apagão, como ocorreu em 2001.

Essa é mais uma das incertezas que rondam a economia brasileira em meio à expectativa de recuperação do pós-pandemia. Os impactos da Covid-19 ainda são latentes, embora o Produto Interno Bruto (PIB) já tenha dado sinais de vida. Mas um racionamento de energia poderia levantar novas dúvidas. Precisamos acelerar a vacinação por questões sanitárias e econômicas, isso vai aumentar a demanda por energia.

Contudo, certamente o primeiro impacto apareceria na inflação, por meio das tarifas, e para as indústrias que contratam energia no mercado livre, pois teriam de arcar com custos maiores e, consequentemente, repassar aos consumidores.

Em mais uma ação para evitar um racionamento de energia elétrica no segundo semestre deste ano, o governo prepara uma medida provisória (MP) que tira poderes da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Ibama na gestão dos reservatórios de usinas hidrelétricas, num momento em que os níveis das principais barragens do sistema estão em mínimos históricos.

O Brasil tem batido recordes de geração de energia por termelétricas desde maio, com o agravamento da crise, o governo deve manter as térmicas ligadas, o que não é o padrão e os custos são altos. De acordo com cálculos do Ministério de Minas e Energia, a geração extra por termelétricas irá custar R$ 9 bilhões aos consumidores neste ano.

Diferença entre Racionamento e Blecaute, Blackout ou apagão?

Apagão e o Racionamento de Energia Elétrica foram, respectivamente, a crise de suprimento de eletricidade e a política governamental implantada para resolver a questão, há vinte anos. Contudo, estudos feitos em 2019/2020 já apontavam uma nova Crise Hídrica em 2021.

Na maior parte das vezes, como foi na crise de 2001, as políticas de racionamento já são o recurso usado para enxugar o consumo e evitar que toda a eletricidade demandada fique maior do que o sistema é capaz de dar conta. 

O blecaute é a queda completa da energia por conta de uma sobrecarga no sistema. Em outras palavras, Blecaute, Blackout ou apagão é um evento que ocorre no gerenciamento da carga do sistema elétrico quando a demanda excede a capacidade geradora/limites operativos do sistema de transmissão.

Apagões podem ocorrer devido a:

  • desastres naturais ou condições ambientais extremas (ventos fortes, avalanches, terremotos, raios, enchentes etc.);
  • inadequação/falta de planejamento da rede elétrica ou uso de equipamentos ultrapassados;
  • falta de controle/gestão da rede e erro humano; e
  • influência do mercado de energia e do sistema regulatório.

O racionamento é uma redução estimulada ou compulsória do consumo. Muitas regiões do Brasil já conviveram em algum momento com o sistema, usado tanto na economia de eletricidade quanto de água. 

Em 2014, por exemplo, quando alguns dos maiores reservatórios de abastecimento de água de São Paulo secaram até o nível do chão em meio a uma seca também histórica, muitas cidades do estado foram colocadas em um esquema em que as torneiras só recebiam água em horários específicos ou em dias alternados. 

No maior racionamento pelo qual o país já passou – o da crise energética de 2001 –, indústrias e residências tiveram que reduzir o consumo de eletricidade em 20% na última vez em que as hidrelétricas tinham ficado tão vazias quanto agora. À época, porém, o sistema não tinha o suporte da geração reserva de energia que existe hoje.  

O Brasil já esteve em situações de crise hídrica similares nos últimos anos, como em 2014, 2015 e 2017. Em todos estes momentos, houve a decisão de não colocar o racionamento em prática, uma vez que o Brasil já estava em crise e buscava sair da recessão econômica.

Crise Hídrica e o Efeito cascata: Risco para todas regiões

Após um período úmido com poucas chuvas, estamos no início da estação seca e os reservatórios estão com níveis de armazenamento baixos, o que acende um sinal de alerta, visto que a água armazenada precisará ser utilizada tanto para a geração de energia quanto pelos demais setores usuários. Sendo assim, a expectativa é de redução dos níveis dos reservatórios até novembro, quando se espera o início do próximo período úmido.

Atualmente, são os reservatórios das hidrelétricas do sistema Sudeste/Centro-Oeste que estão em situação crítica: eles estão nos menores níveis desde o apagão de 2001. É onde está Furnas, em Minas Gerais, e de onde sai 70% de toda a energia hidrelétrica do país.

A rede energética brasileira é praticamente toda interligada por redes de transmissão, no chamado Sistema Interligado Nacional (SIN)

Isso significa que, independentemente de onde a energia é gerada, ela pode ser distribuída por todo o país, e é por essa razão que todo o sistema acaba afetado.

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